19/04/2012 12:30

A INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS ATRAVÉS DE UM EXEMPLO.

   Antes de mais nada, é preciso compreender o que significa interpretar um texto, seja este de qual tipo for.  Afinal, todo texto é um conjunto de ideias ou frases contendo sentidos, estes relacionados à realidade ou não - como nos textos fantásticos que aparecem nos contos, nas fábulas e etc.

  Em questões de vestibular ou de concursos, é muito importante que o leitor já tenha um prévio conhecimento, mesmo sendo pequeno, sobre o assunto abordado no texto, pois isso facilita a apreensão (assimilação) da intenção do autor. Porque no momento de lermos um texto no contexto de exame, prova, temos que compreender a ideia do autor desse texto, e não atribuir a ele uma opinião pessoal, a não ser que nos seja solicitado.

  Por isso, resolvi aqui, através de um texto bem interessante e polêmico, revelar algumas dicas sobre a interpretação de textos. E, por pesquisar e ter tido algumas experiências relativas à ação de interpretar textos em provas e concursos, e sabendo que a maioria desses textos são retirados das mídias, seja em sites, revistas de circulação nacional ou até mesmo em jornais, entre outras, o texto escolhido foi retirado da revista Nova Escola, do mês de outubro de 1990, cujo autor é Luíz Fernando Veríssimo. Espero que gostem!

    

    RETROCESSO

 

   "O visitante acompanhou fascinado, uma aula como ela seria num futuro em que o computador tivesse substituído o professor."

   O visitante estranhou porque, quando o levaram para conhecer a sala de aula do futuro, não havia uma professora-robô, mas duas. A única diferença entre as duas era que uma era feita totalmente de plástico e fibra de vidro, fora, claro a tela do seu visor e seus componentes eletrônicos, e a outra era acolchoada. Uma falava com as crianças com sua voz metálica e mostrava figuras, números e cenas coloridas no seu visor, e a outra ficava quieta num canto. Uma comandava a sala, tinha resposta para tudo e centralizava toda a atenção dos alunos, que pareciam conviver muito bem com a sua presença dinâmica; a outra dava a impressão de estar esquecida ali, como uma experiência errada.

 O visitante acompanhou, fascinado, uma aula como ela seria num futuro em que o computador tivesse substituído o professor. O entendimento entre a máquina e as crianças era perfeito. A máquina falava com clareza e estava programada de acordo com métodos pedagógicos cientificamente testados durante anos. Quando não entendiam qualquer coisa as crianças sabiam exatamente que botões apertar para que a professora-robô repetisse a lição ou, em rápidos segundos, a reformulasse, para melhor compreensão. (As crianças do futuro já nascerão sabendo que botões apertar).

  - Fantástico! - comentou o visitante.

  -  Não é? - concordou o técnico, sorrindo com satisfação.

 Foi quando uma das crianças, errando o botão, prendeu o dedo no teclado da professora-robô. Nada grave. O teclado tinha sido cientificamente preparado para não oferecer qualquer risco aos dedos infantis. mesmo assim, doeu, e a criança começou a chorar. Ao captar o som do choro nos seus sensores, a professora-robô desligou-se automaticamente. Exatamente ao mesmo tempo, o outro robô acendeu-se automaticamente. Dirigiu-se para a criança que chorava e a pegou no colo com os braços de imitação, embalando-a no seu colo acolchoado e dizendo palavras de carinho e conforto numa voz parecida com a do outro robô, só que bem menos metálica. Passada a crise, a criança, consolada e reestabelecida, foi colocada no chão e retomou seu lugar entre as outras. A segunda professora-robô voltou para o seu canto e se desligou enquanto a primeira voltou à vida e à aula.

   - Fantástico! - repetiu o visitante.

   - Não é? - concordou o técnico, ainda mais satisfeito.

   - Mas me diga uma coisa... - começou a dizer o visitante.

   - Sim?

   - Se entendi bem, o segundo robô só existe para fazer a parte mais, digamos, maternal do trabalho pedagógico, enquanto o primeiro faz a parte técnica.

   - Exatamente.

   - Não seria mais prático - sugeriu o visitante - reunir as duas funções num mesmo robô?

   Imediatamente o visitante viu que tinha dito uma bobagem. O técnico sorriu com condescendência.

   - Isso - explicou - seria um retrocesso.

   - Por quê?

   - Estaríamos de volta ao ser humano.

   E o técnico sacudiu a cabeça, desanimado. decididamente, o visitante não entendia de futuro.

 

    

ANALISANDO O TEXTO...

 

    Que tipo de texto você acabou de ler? Tem alguma ideia?

  Ele narra alguma história? Sim!!! Existe um narrador que não é nem o visitante, nem o técnico, muito menos as professoras-robôs. É o próprio autor, nesse caso, o Luíz Fernando Veríssimo. Que conta um possível fato do futuro, que ainda pode vir a acontecer, principalmente, de acordo com os novos padrões de comportamentos, hábitos e rotinas dos cidadãos que estão cada vez mais utilizando-se das tecnologias para administrar e facilitar suas vidas. E, na área da educação, têm-se lido, visto e escutado por aí, muitas opiniões, pesquisas de especialistas e profissionais do campo educacional sobre os novos modos de ensinar e de aprender, intermediados pelas tecnologias de informação e comunicação. Mas no texto, o autor criou uma ficção, propôs uma imagem de como seria uma sala de aula, onde existissem crianças sendo ensinadas por robôs em vez de seres humanos. Cada um desses robôs com uma função específica, tudo bem organizado e previamente analisado. Dando suporte às crianças, tanto tecnicamente, passando a elas os conteúdos da aprendizagem, da aula, como "afetivamente", quando se machucassem, pegando-as no colo e as confortando.

  Esse texto é narrativo e um tanto descritivo também, porque descreve as características das duas professoras, demonstrando quais necessidades elas satisfazem das crianças. Pode-se comprovar isso nos 1º e 5º parágrafos.

  No 2º parágrafo, na linha 3, tem-se a explicação de como agiriam as crianças quando estivessem com alguma dúvida a respeito do conteúdo da aula.

  O interessante desse texto é que as características das duas professoras são completamente diferentes e descritas de forma muito clara. A professora-robô que tem a função de explicar a matéria para as crianças é objetiva, eficiente e impessoal; ou seja, ela responde somente ao que lhe é perguntado, proporcionando às crianças exatamente o que elas precisam ouvir para resolver suas dúvidas sobre o conteúdo da aula. E trata a todas igualmente, como se as crianças fossem iguais, pois não tem o senso de diferenciar uma da outra pela sua individualidade, já que é um robô, criada para atender a determinadas coisas. Enquanto que a outra professora-robô é carinhosa no momento da dor, porém, sempre fazendo a mesma coisa com todas as crianças. O que elas têm em comum é o fato de serem robôs, de não diferenciarem as crianças, tratá-las de forma igual, e de não oferecer a elas nada além do que foram programadas para oferecer.

 O título do texto - retrocesso - que significa "voltar trás", possui sentido ambíguo, porque, ao mesmo tempo, os robôs, a máquina substituiria o ser humano em termos técnicos, pouco interativos, sociais. Logo, isso não seria um retrocesso? Ou também, pode-se encarar, compreender o texto como um acontecimento já marcado pelo costume das crianças e demais pessoas da sociedade com as tecnologias dominando suas vidas, e fazendo tudo por elas, desde sanar-lhes dúvidas objetivamente, como abraçá-las quando estiverem tristes ou machucadas. Logo, voltar ao ser humano e´que seria um retrocesso, uma vez que a máquina programada facilita a aprendizagem e proporciona calma em horas aflitivas dando conta do recado.

 O texto é bastante polêmico e reflexivo, pois discute a relação homem-máquina e homem-homem. Será que não sentiríamos falta do contato mais íntimo com nossos mestres? Do calor humano, de conversas fiadas durante as aulas só para descontrair e deixar a todos mais à vontade? Ou será mesmo que ficaríamos mais à vontade e até seríamos mais independentes e autoconfiantes tendo o apoio de robôs em vez de seres humanos?

...

  Uma dica importante para compreender bem todos os aspectos de um texto é grifar as partes que nos chamam mais atenção, em que cada uma delas nos revela uma informação nova sobre o assunto. E não pense você que os parágrafos têm essa função. Nem todos possuem ideias novas, mas podem ser a continuidade do pensamento anterior. Fique ligado(a)! Boa Sorte!

 

    - 

—————

Voltar


Contato

Daniella Caruso Gandra

Rio de Janeiro.

(21) 9754-7417.